MEMÓRIAS DE UM SÃO PAULO ANTIGO SEUS HOTÉIS
Os Hotéis na cidade de São
Paulo antigo no
fim do século XIX não eram construções exuberantes e também não foram um grande
número de construções. No entanto, as poucas construções podem ser considerados importantes
para entender a evolução histórica, econômica e social da cidade de São Paulo
no decorrer dos anos.
Como em toda sociedade os hotéis estão
ligados ao crescimento socio-econômico e o desenvolvimento urbano de um lugar,
então os hotéis se instalaram justamente nos principais pontos da cidade e esse
desenvolvimento ocorreu principalmente no final do século XIX e início do
século XX até os meados do mesmo século.
E nesse período a cidade teve vários pontos
de desenvolvimento hoteleiro na região Central.
As regiões entre o Triângulo
Central que cujos
vértices ficam os Conventos de São Francisco, de São Bento e do Carmo e o
Centro Novo serão interessantes para compreender esse desenvolvimento.
Com a virada do século o grande marco para o
crescimento e industrialização da cidade está enfocado na figura do Imigrante.
A partir de 1870 o movimento de chegada de imigrantes aumentou muito, atingindo
a marca de 2.740.000 estrangeiros, isso em 1914, em grande parte : italianos,espanhóis
e alemães. E muitos deles eram refugiados da primeira Guerra Mundial, ajudando
assim, a urbanização da Cidade de São Paulo e a entrada de novas idéias artísticas , arquitetônicas e culturais,
enfim, uma nova educação que mudava a cultura da região.
Atraídos pelo repentino desenvolvimento, São
Paulo tornou-se um pólo de grande número desses imigrantes atraídos
pelas inúmeras oportunidades que surgiram. Com isso, a cidade de São Paulo
respondeu de forma imediata a essa situação com a expansão urbana através de
diversos bairros e alguns identificados pelas comunidades neles predominantes.
Com a República a cidade ampliou sua área
urbanizada e ampliou sua área central incorporando diversos edifícios públicos
monumentais e o retalhamento das chácaras em seu entorno para implantação de
loteamentos. A economia vinculada ao capital do café fez com que avanços
tecnológicos e um capital jamais vistos. Surgiram vários bancos fazendo que a
cidade perdesse os ares de provinciana, então a nova sociedade exigiu novos
padrões de vida e de instalações.
A história de São Paulo foi diferente, por
exemplo, do Rio de Janeiro que teve um aumento do fluxo de estrangeiros no
início do século XIX com a chegada da Família Real e conseqüentemente no
surgimento de hotéis e hospedagens. Essa demanda na cidade de São Paulo só teve
crescimento substancial a partir dos meados do século XIX, com a instalação da
Academia de Direito do Largo de São Francisco em 1827.
O historiador Antônio Rodrigues Porto, “a
instalação da Academia de Direito foi o acontecimento mais importante para a
vida da cidade de São Paulo em toda primeira metade do século XIX. A presença
desse estabelecimento de ensino superior deu-lhe mais vigor e entusiasmo.
Academia de Direito arrancou São Paulo do seu sono colonial e criou condições
para alterar seus costumes tradicionais”.
Com o crescimento da cidade de São Paulo,
dentro do contexto do século XIX, surgiu uma nova fase de construções
hoteleiras e hospedagens e muitos ficaram na história.Em sua formação inicial
de urbanização, o Triângulo Central, teve os principais hotéis próximos à
Faculdade de Direito e às Estações Ferroviárias da Cidade, sendo um dos
destaques desse período o Grande Hotel,
construído por encomenda do alemão Frederico
Glete, na Rua São Bento com o Beco
da Lapa, hoje Rua Miguel Couto. Inaugurado em 1878, projetado por Von Puttkamer, era um edifício de três
andares e que recebeu hospedes famosos como o príncipe Henrique da
Prússia(1885) e a artista Sarah Bernhardt (1886). E Foi demolido em 1964 para
da lugar a um edifício comercial.
O conjunto hoteleiro da Rua Mauá, antiga Rua
da Estação, vizinhos das estações Sorocabana e Luz. Este hotéis são testemunho
de uma atividade que foi bastante comum em sua época quando era uma área
de maior comércio de São Paulo, pois ainda é relevante o comércio nesta área
nos dias de hoje. E seus hóspedes, segundo dados do DPH, eram “oriundos de cidades
do interior do estado que ali chegavam através da Ferrovia para fazer compras
ou simplesmente olhar as vitrines, instalando-se nestes hotéis pela comodidade
e conforto”.
Os mais importantes, o Hotel do Comércio e o Hotel
Federal Paulista, construídos em alvenaria de tijolos, são prédios de três
pavimentos, em funcionamento até nos dias de hoje, porém, em situações
precárias. Outros dois hotéis merecem ser lembrados os da Avenida Gasper
Libero, como: Hotel Queluz e o Karin.
Nos anos 20 e 30, com as exportações em alta
do café, levaram à capitalização de recursos para a formação das
primeiras indústrias de São Paulo, favorecidas pela mão de obra farta.
Implantadas ao longo dos terrenos das
várzeas dos rios, por onde passavam as ferrovias, as fábricas criaram um novo
perfil urbano e econômico e cultural da cidade, ampliando ainda mais seu
crescimento. E com a crise do café nos anos 30 e a quebra da bolsa de Nova York
acelerou e consolidou o processo de industrialização na economia paulista.
O centro Histórico ficou inviável para novos
projetos e a malha urbana se espalhou entre a região da Avenida Ipiranga,
Avenida São Luiz e Avenida Paulista. O crescimento de espaços públicos como
praças, teatros e cinemas e o aumento da vida noturna com a melhoria da
iluminação pública, modificaram os modos e costumes da sociedade paulistana.
Em 1930 São Paulo possuía cerca de 900.000
habitantes. Neste contexto, mudaram o perfil construtivo e arquitetônico.
Surgiram os hotéis luxuosos, destinados aos grandes barões do café e os
emergentes industriais e a invenção do elevador fez com que a altura dos
edifícios ficara se expedisse. São exemplos dessa época, nos anos 20 a inauguração do Hotel Terminus, com mais de 200 quartos , localizado
na Avenida Prestes Maia, onde hoje é o Edifício da Receita Federal, e do
moderno Hotel Esplanada, atual sede
do Grupo Votorantin com 250
quartos , um ponto de encontro da elite paulistana sendo
ao lado do teatro municipal.
O
Hotel Central, prédio
histórico de autoria de Ramos de Azevedo, que era considerado um dos arquitetos
mais importantes de São Paulo no início do século XX, “A década de 20 foi um
período de grande efervescência intelectual na cidade. Iniciava-se a era da
modernidade e os homens públicos procuravam também avançar na maneira de
enfrentar a cidade que já despontava como metrópole”, diz Marta Dora Grostein.
Após algumas mudanças de lei dos anos 30 e
40, que estabelece o alargamento de importantes avenidas na cidade, novo pólo
surgi no setor hoteleiro, um exemplo é o Hotel Excelsior, 1941-1943, projetado por Rino Levi, destaque na avenida Ipiranga como também dessa época o Hotel Terminus.
Um ponto importante lembrar foi, na década
de 40 o desenvolvimento dos grandes hotéis. Com a legalidade do jogos de azar
foram construídos vários hotéis – cassino, como: Parque Balneário em Santos, Grande Hotel de Poços de Caldas, Grande Hotel
de Araxá, São Pedro. Com a proibição dos jogos de azar imposto por Getúlio
Vargas em 1946, muitos fechou ou tiveram que se reestruturar.
Com certeza os hotéis e hospedagens antigos
como: o Hotel Itália e Brasil, na
ladeira do Açu, hoje início da Avenida São João em 1887 e Hotel D’Oeste, no Largo São Bento, esquina com a Rua Boa Vista em
1900, são ums exemplos de hotéis simples e importantes para a
história de uma cidade que se desenvolveu lentamente até o século XIX, porém no
XX, mostrou a potencialidade do povo que vivia aqui ou que vivem aqui e
os imigrantes que tanto valorizou a nova terra.
Fonte: site www.sãopauloantiga/hotéis